Folhas de papel com desenhos em preto e branco, repleto de detalhes, prontos para serem preenchidos com diversas nuances de cores dos lápis que estão espalhados pela mesa. Todo esse cenário remete à infância ou a um ateliê, não é mesmo? Na realidade, trata-se de um livro de colorir para adultos que, nos últimos meses, virou febre no Brasil como forma de terapia, principalmente entre as mulheres. Um livro incomum com poucas palavras mas muitas imagens, que, entretanto, é a nova tendência do mercado literário.
Visto que, segundo um levantamento feito pela International Stress Managemente Association em 2012, o Brasil foi considerado o 2º país com maior nível de estresse do mundo, é normal que a promessa de que o livro seja antiestressante chame a atenção. Segundo o psicólogo clínico Gustavo Trevisan, há duas razões para isso. “A primeira razão é que quando você está pintando, acaba focando suas atenções nessa atividade e por consequência esquece de suas preocupações. A segunda é por conta de um movimento que chamamos de catarse, ou seja, o papel vira uma espécie de depósito, no qual é possível fazer uma espécie de transferência de conteúdos internos, dando portanto o alívio”, conta Trevisan.
Os livros de colorir mais procurados são o “Jardim Secreto” e “Floresta Encantada”, ambos da ilustradora britânica Johanna Bastford, que já superou a marca de um milhão de vendas no mundo. Segundo o psicólogo, o sucesso do livro pode ser atribuído às necessidades que as pessoas têm de se desligarem um pouco da tecnologia, da correria do dia a dia e também a algo muito mais simbólico: o próprio processo de colorir, pois cada vez mais os sentimentos estão mais embotados, mais preto e branco, e tudo padronizado. “Nessa atividade é possível dar cor, deixar sua marca e fazer algo personalizado”, afirma Trevisan.
A jornalista Gisele Silva Salvador conta que na infância gostava muito de colorir e esse foi um dos motivos pelos quais a fez aderir à tendência. “Decidi comprar o livro por duas razões: vi que todo mundo estava comprando e me chamou a atenção o fato de terem criado um livro de pintar para adultos, e isso me fez relembrar a infância, eu sempre gostei muito de pintar e desenhar”, conta Gisele. Para a jornalista a promessa antiestresse realmente funciona devido à atenção dada à atividade que a faz esquecer dos problemas.
O interesse pelo livro por remeter às atividades da infância, também pode ser explicado pela psicologia. “Trazer sentimentos e comportamentos do passado pode ser configurado uma regressão. Nesse sentido, colorir livros também pode ser interpretado dessa forma, e isso é bom. Porque também é uma maneira de visitarmos a criança que existe dentro de nós. Agora parafraseando Freud ‘Somos sempre crianças, mas só mudamos os brinquedos’”, afirma o psicólogo.