Desconhecia o significado de comida afetiva na prática até dar a primeira garfada do prato que escolhi no Hospedaria, na Mooca. São poucos os lugares em São Paulo que despertam tanto carinho dentro do meu coração – e também do buchinho. Neste dia me senti o Anton Ego, do desenho Ratatouille, sabe? Só que o mau humor era devido à fome (muito) e à espera (de leve) que o restaurante tem.
Missão impossível
Escolher um prato no cardápio do Hospedaria é tarefa dificílima. São muitos que parecem deliciosos apenas ao ler os ingredientes. Foi então que nossas escolhas disseram muito sobre nossas próprias histórias de família. Percebemos o quanto cada prato dizia sobre nós dois e, por conta disso, podemos dizer o que a cozinha afetiva nos fez sentir na prática.
Museu da Imigração
Só para contextualizar: o Hospedaria foi criado pelo chef Fellipe Zanuto do Pizza da Mooca e também do recém-visitado por nós, o Cantina . E o que o Museu da Imigração tem a ver com isso? Foi onde o chef debruçou sobre os arquivos do museu e investigou cadernos de receitas para criar o Hospedaria, além de suas próprias experiência, claro, por ser neto de imigrantes italianos.
Uma mistura de família

Aqui, eu deixo as palavras com o Fe para falar sobre a escolha do prato dele: “Até a minha vida adulta eu achava que só existia o arroz branco e que risoto era só de frango! Até que fui descobrir que eu não entendia nada sobre arrozes e que o universo dos risotos é infinito. Descobri também que os risotos são feitos com o arroz arbóreo e então depois disso como padrão todos os risotos que provei foram bem elaborados – tipo brie com pera – com o arroz que a cartilha diz ser o correto!
Então, minha cabeça quase explodiu ao receber o prato que eu havia pedido na Hospedaria: o Risoto Imigrante (R$ 54). Os ingredientes eram os mesmos que minha mãe usava em casa quando eu era criança: risoto de frango feito com arroz branco, ovo e costelinha assada. Muitas coisas fizeram sentido naquele momento e a sensação era de ler um livro em que a cada garfada que eu dava era uma nova página.
Nesse livro/prato consegui enxergar como os pratos dos países dos nossos familiares eram adaptados para a nossa realidade, como nossa família tratava com naturalidade, simplicidade e respeito nossas origens e como essa adaptação se tornou a nossa verdade! Hoje eu sei que risoto é feito com arroz branco SIM e não apenas com arroz arbóreo! Agora, após essa enxurrada de sentimentos e afetividade, o gosto do prato não fica em segundo plano, ele está junto, misturado e ao nível dessa pequena história!”
De pai para filha
Voltando ao que disse no início do texto: a primeira garfada. O prato escolhido foi o Macarrão a Bolonhesa (R$ 47), feito na lenha e gratinado com queijo. Ao provar o prato, imediatamente me veio à mente a minha imagem de criança ao lado do meu pai na cozinha. Eu tinha uns 10 anos quando, pela ansiedade do almoço, ficava ao lado meu pai enquanto cozinhava o seu macarrão à bolonhesa e, ao mesmo tempo, me ensinava – uma das minhas especialidades hoje em dia, diga-se de passagem. rs

Por ter essa memória afetiva, sou muito exigente quanto ao sabor do molho. Não gosto daqueles adocicados, até como, mas não me completa. E o do Hospedaria é do jeitinho que eu gosto. Regado a azeite e temperos do dia a dia, muita cebola e alho. Molho farto e carne moída “pedaçuda” como manda o costume. A boca até fica aguada só de lembrar do sabor impecável de um prato tão comum na rotina da minha família e que eu tanto amo. A diferença é que usamos queijo ralado no lugar do gratinado – maravilhoso, por sinal. Por ser finalizado no forno à lenha, o prato vem muuito quente.
Se meu pai é filho de imigrante italianos? Pelo contrário, ele é nisei, filho de japoneses que vieram para o Brasil no pós-guerra. O seu gosto pela culinária italiana talvez tenha a ver com a minha avó materna, que era filha de italiano. E, meu avô materno, de descendência portuguesa – um dos motivos pelo qual meus pais também cozinham um dos melhores bacalhau de forno da minha vida.
O Chá “Mato”
Um espetáculo à parte, o Chá Mato (R$ 12) é feito de chá capim limão, infusão de maracujá, suco de limão, xarope de açúcar e água com gás. Somos apaixonados por chás, e esse do Hospedaria não chegou perto de nada do que a gente já provou por aí. Delicioso.

Está com fome? Chegue cedo
Foi de última hora que decidimos almoçar no Hospedaria após nosso roteiro pelo Museu da Imigração, por isso, a nossa dica é: chegue cedo, caso não queira enfrentar uma fila de espera considerável. O lugar é muito gostoso para ficar, comer e bater papo. Então, se encontrar uma fila, tenha paciência. A experiência valerá super a pena.

Antes de ir, dê uma espiadinha no cardápio…
Hospedaria
Endereço: Rua Borges de Figueiredo, 82 – Mooca
Valor: R$ 50 a R$ 70
Site: http://www.restaurantehospedaria.com.br/
tentei olhar o cardápio, mas as imagens estão pequenas demais!
Clica nelas que elas ampliam!
mas recomendamos olhar diretamente no instagram do restaurante porque esse post é de 2018